
ENTREVISTA COM CAMILE RORATO – Uma paulista apaixonada por Vaquejada.
Camile é uma jovem atleta de Vaquejada, com apenas 21 anos. Estudante de Medicina Veterinária, essa paulista de coração monta a cavalo desde os tenros 3 anos de idade, quando deu seus primeiros passos nas corridas de tambor. Há pouco mais de 2 anos, ela descobriu e se apaixonou pela Vaquejada. Conheça mais sobre a trajetória inspiradora dessa nova Atleta Vaquera.

Como você começou a relação com os cavalos?
Camile: Desde que eu nasci, sempre tive relação com eles. Minha mãe dava aula de equitação e 3 tambores. Com 3 anos, eu já competia em 3 tambores, montando um pônei. Ganhei muitos rodeios com apenas 5 anos de idade. A galera da arquibancada e do camarote levantava, muitos pediam fotos comigo, eu me sentia A FAMOSA (risos). Até famosos que faziam show após a corrida me chamavam para me conhecer. Corri com esse pônei até os meus 8 anos; depois disso, troquei por um cavalo, pois o pônei já estava pequeno para mim. Não usava estribo, corria solta na sela, o estribo da sela ficava grande e eu não me sentia confortável; corri até os 6 anos sem ele.
Coragem de sua mãe, viu!
Camile: Muita coragem! Ela sempre me colocava para testar os cavalos que chegavam na escolinha, antes de dá-los aos alunos. Já caí muito de cavalo bravo que ela me colocava para experimentar. Se fossem adequados para mim, ela os dava aos alunos. Era muita loucura dela, mas isso me deu muito equilíbrio e me fez cavaleira.


Você fez tambor até quantos anos?
Camile: Fiz até os 14 anos, parei quando minha mãe fechou a escolinha. Voltei com 18 anos e estava competindo até o ano passado aqui em Pernambuco. Hoje estou sem competir, pois meu cavalo está doente há um ano; ele teve laminite e miosite quando levamos para um treinador novo. Mas pretendo voltar em breve com novos cavalos de tambor. Por enquanto, só vaquejada mesmo, mas até 2022 eu fazia os dois, vaquejada e tambor.
Quando foi que surgiu o interesse na Vaquejada?
Camile: Quando vim de férias para Recife, fui a um bolão e achei o máximo! Voltei para o interior de SP admirando a vaquejada. Em outra viagem para cá, fui ao Rufina Borba para ver a vaquejada que estava acontecendo lá. Fiquei extremamente apaixonada, mas jurava nunca conseguir fazer aquilo, achava muito complexo precisar alinhar um boi, passar a volta e derrubá-lo exatamente na faixa. Até que me colocaram para passar uns bois em um haras onde minha mãe atendia, o haras Pinheiro. Comecei treinando em uma égua de esteira e num cavalo mansinho de um cliente, Samuel Moura. Esse cavalo foi o primeiro que corri, foi em um bolão em Ribeirão-Pe, derrubei meu primeiro boi lá, bem longe da faixa, mas derrubei (risos). Isso me despertou a vontade de morar em Pernambuco, e essas férias se tornaram uma mudança de estado. Daí em diante, segui treinando nesse mesmo haras e conheci a égua que corro hoje, do meu atual namorado, Avelar Sampaio. Ela me trouxe diversos prêmios, mas muitas quedas também, tem muita velocidade e eu ainda não estava no nível dela; com o tempo, fui me adaptando ao jeito dela.

Foto: Allan Damasceno
Você teve alguma dificuldade para aprender a correr boi? Quais foram as maiores dificuldades no início?
Muitas! Estava acostumada com o tambor, o jeito de pilotar um cavalo de tambor. Esse esporte me ajudou a começar na vaquejada, pois já era bem seleira, mas me deixou confusa na hora de pilotar o cavalo de vaquejada. Outra dificuldade foi descer da sela na faixa, não me sentia segura, não conseguia me prender corretamente no pescoço, eu puxava o boi antes de ir para o pescoço da égua, tomei vários tombos assim.
A Vaquejada é um esporte que pode machucar, e você já se machucou alguma vez? Quais cuidados você toma para se proteger?
Camile: Recentemente, fraturei o pé em uma competição, passei por uma cirurgia e coloquei dois pinos. Nunca fui de me proteger muito nesse esporte, apesar de saber o quanto ele é perigoso. Andei a vida toda em todo tipo de cavalo, já tomei vários tombos, mas nunca me machuquei. Essa queda foi traumatizante, voltei a correr com 45 dias de cirurgia, mas tomei mais cuidados, como medir certinho o estribo para ficar mais presa na sela. Antes disso, eu estava correndo há algum tempo com o estribo grande para mim, mas como a sela não tinha mais furos, deixava pra lá e corria como dava. Hoje só corro com o estribo medido corretamente para mim, e com ligas de dinheiro para segurar o estribo na minha espora, um truque que um profissional de vaquejada me ensinou. Além disso, troquei o capacete por um mais seguro e firme.
Tem alguma superstição antes de entrar na pista?
Peço bênçãos a mim, à minha égua e ao boi, para que nada de ruim nos aconteça.
Nos dois esportes que você pratica, quais são suas referências?
Na vaquejada, uma das pessoas que mais admiro como vaqueira é a Jennifer Emanuellen. Admiro a força, a coragem e a garra dela. Um dia espero ser 1% do que ela é nesse esporte. No tambor, minha maior referência sempre foi minha mãe, ela me ensinou desde pequena a não só montar, mas também amar os cavalos. Sempre teve muita garra, ela dá o sangue nas competições. Sou fã dessas duas.


Como é a sua rotina de treinamento?
Não treino tanto, infelizmente não temos muitas oportunidades para treinar em casa. Algumas vezes passamos apenas nos bois de passar do haras vizinho. Raramente vamos para algumas passadas que o pessoal organiza aqui pela região. Mas normalmente meu treino é saindo para as corridas. Não é algo que eu indico, mas é nossa realidade por aqui.
O que tem que melhorar na categoria feminina? A categoria ainda é muito desvalorizada?
Acredito que sim, uma das coisas que mais precisam melhorar na categoria feminina é a premiação. Mas para isso é necessário a ajuda de mais patrocinadores, e as meninas precisam de patrocínio. Se cada equipe adotasse uma menina, teríamos mais condições de igualdade.
Qual título mais importante que você ganhou? E tem algum título especial que você queira ganhar?
Sem dúvidas, meu primeiro título foi o mais importante, me incentivou muito a seguir nesse esporte e não desistir. Mas todos até hoje foram especiais para mim. Acho que ser campeã brasileira é o sonho de quase todas as vaqueiras (risos). Mas é um caminho muito longo de dedicação e treino que preciso percorrer antes de pensar nisso.
Que conselho você daria para uma menina que gostaria de começar a correr 3 Tambores e vaquejada?
Corra atrás e não desista, mantenha sempre os pés no chão! Um dia sua hora chegará!